O curso de bacharelado em Artes Cênicas do Centro Universitário Celso Lisboa iniciou em 2019 a sua primeira turma. Nossa proposta é formar o artista plural da cena, capaz de atuar, dirigir e produzir seu próprio projeto artístico. Ao final de 2021, formamos a primeira turma. Como projeto de montagem final, os alunos apresentam o espetáculo "Roberto Zucco" , de Bernard- Marie Koltès no Teatro Ipanema nos dias 15 e 16 de dezembro. Apresentamos abaixo em forma de galeria o espetáculo e sua ficha técnica. Boa viagem.


O QUE VOCÊ BUSCA AO ASSISTIR UM ESPETÁCULO?

Enquanto diretores e atores, ao longo de um processo de montagem de uma obra artística, nos preocupamos com a ideia de prazer do espectador, como se o publico sempre tivesse em busca de diversão e leveza.

O público deveria ir ao teatro para se energizar e não esvaziar-se.

Uma peça teatral, então, deveria conter todos os elementos geradores dessa energia, cuja principal é a crueldade. Temos um fetiche pelo horror: quando nos aglomeramos em volta de um acidente , quando as principais notícias esfregam na nossa cara a tragédia cotidiana. O horror nos coloca diante da maior questão filosófica - a morte - , e nos faz encarar nossas dores, carregando nossas feridas como um órgão que necessita de alimento diário para funcionar.

No espetáculo “Roberto Zucco", de Koltès, a tragédia cotidiana expõe que todos somos capazes das mais horrendas atitudes e nos comunica com a nossa selvageria, legitimando a irracionalidade que corre em nosso sangue através do instinto.

Zucco escarra nas nossa chagas, e o espectador é convidado a purgá-las diante da moral encarnada em cada um.

Como disse Samuel Beckett : “o maior delito é haver nascido".


DO QUE UM ATOR SE ALIMENTA?

Para o ator - veículo generoso dessa comunicação da tragédia humano com o público - , não é possível compreender o universo trágico sem se relacionar com o seu próprio mundo interior: traumas, complexos e paixões. Sem o seu patrimônio individual não é possível atingir a verve complexa das personas que um autor intuiu. Não estamos falando de inflacionar o performer de psicologismos fazendo do palco o seu divã, mas da capacidade de compreensão das questões atravessadas pelo corpo, pois a verdade está no corpo. É ele que sabe, que é capaz de criar vertigens para o espectador e contaminar a sua experiência pessoal. Esse patrimônio emocional mora na carne, na matéria, e é diante dela que devemos deixar vazar, fluir, excretar as nossas emoções e vivências mais intimas diante do público.

POR QUE ROBERTO ZUCCO NÃO PODE SER UM DE NÓS?

A peça tem como protagonista um outsider, um assassino com uma certa poesia existencial. O espetáculo coloca pra fora a miséria humana, nos dando a sensação de que todos os personagens se acovardam diante das suas pulsões e ações e, por isso, são presos a elas, enquanto Zucco é livre. Ele vai até o final das suas ações, ignorando todas as consequências, apertando o botão da nossa máquina mortífera.

Roberto Zucco nos acovarda, pois é livre dos sentimentos que o aprisionam.

É capaz de matar, como todos nós, mas a diferença é que ele age diante da hipocrisia do mundo, de todos que esbravejam seus ódios, com insultos, ameaças, invejas, controles, abusos de poder, mas não tem a coragem de ir até as últimas consequências. Roberto Zucco se purificou, se livrando do ódio e transformando-o em terror. Seria possível imaginar Zucco tatuando em seu corpo a frase célebre de Jean Genet, “para fugir do horror, enterre-se nele até os olhos”.


O teatro deveria ser como um show de Rock ou um Trem Fantasma, ou melhor, uma Montanha Russa, onde os espectadores pudessem ter a experiência, por um segundo, de estarem diante da vida de cabeça para baixo e entender o mundo com o ângulo certo.


O QUE VOCÊ TEME?

O defloramento do ser humano deveria ser o seu primeiro espetáculo de teatro. A cena comportada coloca o espectador diante de um mundo falso, uma vida vazia, uma não existência. O teatro para mostrar a vida como ela é deveria ser capaz de expulsar o espectador da plateia.

Falta temer o teatro.

Existe uma confusão entre arte e entretenimento: o teatro é arte, e ela só tem sentido se desestabiliza o espectador. Ele não está ali pra se divertir, mas sim para ser desafiado, lutar diante das suas fantasias, diante do seu fracasso e se reconhecer na vilania,questionando o seu papel na existência. Se o teatro não tiver esse propósito , podemos derrubá-lo e construir Shopping Centers.

 

O NASCIMENTO DE UM ESPECTADOR

É preciso ter responsabilidade enquanto espectadores. Somos o motor para que o espetáculo exista. Está em nossas mãos a capacidade de algo ser uma obra de arte ou não: não é a critica ou os artistas que determinam a existência de uma obra. A relevância de uma obra, sim, são os críticos, mas é importante entender que relevância é pra três ou quatro pessoas e não altera o mundo.

Uma obra cênica não precisa de relevância , ela precisa existir ela precisa de existência, de vida, e quem dá isso pra ela é o público.

O público é o agente de legitimidade: as maiores obras de arte no mundo foram feitas em ateliês ou palcos escondidos para dez pessoas. Relevância é a categoria que a elite determina. A arte essencial precisa simplesmente nascer e estar pronta para receber o mundo.

SINOPSE


Baseado na vida do serial killer italiano Roberto Zucco (1 9 6 2 - 1 9 8 8 ), a peça foi escrita pelo dramaturgo francês Bernard-Marie Koltès. A trama inicia com Zucco foragido da prisão, condenado pelo assassinato do pai. Sem paradeiro, o jovem inicia um percurso de encontros com diferentes personagens, envolvendo novos assassinatos e perseguições. A história intercala violência e comicidade, com a força do texto dramático, buscando envolver o espectador na complexa natureza humana, recheada de códigos de conduta moral.

SE PROGRAME

Quando? Dias 15 e 16/12 às 17h e 19h30.
Onde? Teatro Ipanema (R. Prudente de Morais, 824 - Ipanema, Rio de Janeiro)
Ingressos: R$20 (valor único)
Classificação etária: 16 anos

 

ELENCO

ALEXANDRE LOPES CARLOS FRAUCHES
AMANDA ORTIZ LOPES
ANNA CLARA GUILINO PAVÃO OLIVEIRA
CARLOS ROBERTO DO NASCIMENTO JUNIOR
CHRISTINA MENDES CHAVES
DIEGO EVANGELISTA LINSBOTH
DILEAN DOS SANTOS DE BARROS
FERNANDA DE SOUSA ALVES
GABRIEL FELINTO SALES SILVA
GUILHERME SANTOS PEÇANHA DA SILVA
ISABELLA LIMA FONSECA
JULIANA MARIA DE BRITO
KESIA POLIANE AVERBUCH ANTUNES DA SILVA
LAIS DA SILVA DINIZ
LARISSA BRAGA SALDANHA
LARISSA RIBEIRO JACSON DOS SANTOS
LUCAS DE QUEIROZ VIDAL
MANUELLE SCART MARTINS RIBEIRO
MARIA HELENA WALSH DE VASCONCELLOS
MATHEUS SILVA DE ARAUJO
MATHEUS ZAIDAN DOS SANTOS LEAO
NITYANANDA CASTRO
THAINÁ PERDIGÃO RIBEIRO
THYAGO FRANCISCO DA SILVA

FICHA TÉCNICA

DIREÇÃO:
JOÃO MARCELO PALLOTTINO

ASSISTÊNCIA DE DIREÇÃO:
JUAN PATRICK
MYKE ESTEVAM

DIREÇÃO DE ARTE:
KARINA LISBOA

FIGURINO E CENOGRAFIA:
MARIA CAROLINA DE SÁ
NITYANANDA CASTRO

TRILHA SONORA:
ISABELLA LIMA FONSECA
VICTOR MACHADO

FILMMAKER:
LAURA CARVALHO

ASSISTÊNCIA DE FOTOGRAFIA:
LARISSA REIS

CONTRARREGRA:
JESSICA RAIANY OLIVEIRA DA SILVA

COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO:
LARISSA SILVA

PRODUÇÃO:
MARIA CAROLINA DE SÁ
NITYANANDA CASTRO
DOUGLAS DESIMONE

MARKETING E MÍDIAS SOCIAIS:
MANUELLE SCART

OPERAÇÃO DE SOM:
DESIRRE KOPKE

ILUMINAÇÃO E OPERAÇÃO DE LUZ:
GLEYDSON LOPES

OPERAÇÃO DE VIDEO:
LUCAS HENRIQUE DE OLIVEIRA

CENOTÉCNICA:
LUCAS QUEIROZ
ALEXANDRE LOPES


OS DIRETORES

João Marcelo Pallottino possui 25 anos de carreira como ator. Nos últimos 15 anos vem desenvolvendo sua própria linguagem na cena contemporânea como diretor e professor, trabalhando na pesquisa de uma cena híbrida. É coordenador da Escola de Artes da Celso Lisboa, além de dirigir a cia BAK - Artes Performativas.

Karina Lisboa é atriz, professora, administradora e mestre em educação em tecnologias emergentes. Trabalha há 21 anos no Ensino Superior. A partir da vontade de incentivar a cultura no Rio de Janeiro, fundou a Escola de Artes da Celso Lisboa em 2015, onde faz a gestão dos projetos, atividades culturais e coordena os cursos de graduação e pós-graduação.

 

 

Realização:

 
 
 
 
 

Apoio:

 
 
 
 
 

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